Pedro estava só. Não que vivesse rodeado de pessoas; a questão é que ele sentia-se só. Há alguns dias, nem banho tomava. As horas passavam sem que desejasse se movimentar o mínimo que fosse. Não produzia nada, não lia, não escrevia. Nada. Pedro era, verdadeiramente, carente de vontade e quando se entristecia a esse ponto, se deixava abater irremediavelmente. Ouvia músicas, jogava paciência com um baralho velho e encardido, às vezes se desesperava e acabava chorando. Juntou algumas moedas perdidas mas não se decidia a ir ao boteco que ficava na esquina para comprar cigarros soltos. Não seriam mais do que uns 50 metros até lá. Uns cem passos... Mas ficaria mesmo sem fumar. Não queria ver ninguém. Tentou rabiscar alguns versos para Madeleine mas tudo o que conseguir foi passar algumas horas diante da mesma frase: "O eco de sua voz me acompanha pela noite. O eco de sua voz me acompanha pela noite. O eco de sua voz me acompanha pela noite." Terminou por jogar fora o papel, angustiado com a ausência dela. "Madeleine". No começo, as pessoas costumavam achar engraçada aquela sua mania de rebatizar as coisas e pessoas com nomes franceses, mas ao final de algum tempo terminaram por se acostumar. Algumas até gostavam, como Madame Margot cujo verdadeiro nome era Soraia. Passou, inclusive, a ordenar que chamassem-na somente de Margot. Madame Margot. Madeleine era a única coisa que Pedro desejaria naqueles dias vazios. Nada mais lhe aprazia, ao contrário, era capaz mesmo de irritar-se com o que quer que fosse. Não tinha dinheiro, mas também não sentia a menor vontade de comer ou beber o que quer que fosse. - Ninguém pra se sentar à minha mesa triste... |