Aos poucos foram se tornando íntimos. Na verdade, muito lentamente.
Tempos depois de serem apresentados, começaram a passar as tardes juntos em sua casinha de bonecas; depois cafés, visitas ao trabalho, enfim. Ao final de um ou dois anos se falavam diariamente e se viam quase que com a mesma freqüência. Mesmo que não pudessem conversar, estavam sempre perto um do outro, só pela presença. Horas e horas gastas entre músicas e leituras...
Durante todo esse tempo ouvira comentários dos amigos dizendo que ele a amava, porém sem saber. Nunca os levou em consideração. Aquilo não era, absolutamente plausível, conhecendo-o como imaginava que o conhecesse.
Nunca havia olhado para ele como um homem, propriamente dito.
Até que um dia, após um desses encontros vespertinos, uma amiga disse achá-lo bonito.
Olhou-o, então. E após olhá-lo, o viu pela primeira vez.
Neste único olhar, como se sempre se houvera sabido, ele deixou de ser o escritor para se tornar O DESEJO.
Como se o desejo sempre se soubera desejo. Como se sempre estivera.