Estava incomodada. E não de hoje.
Havia dias que as coisas não andavam direito. Na verdade, o problema era que havia chego naquela parte do ciclo em que o rompimento se pronuncia. Dali para frente tudo poderia mudar mas o pior da ruína era esperar por ela.
De repente tudo poderia se tranformar, talvez para melhor, quem sabe, mas não saber era o que mais a atormentava. O cerne da questão era que sua vida se encontrava em suspenso. E isso se alastrava pelos seus dias, pelas suas horas. Um tormento indizível.
Em suspenso.
Tentava, em vão, se amparar da queda que parecia certa, mas como, se não...
Caminhava pela casa vazia. O velho robe de chambre florido, meias nos pés. "Figura patética", pensava. Deveria se decidir a dar um rumo ao menos para o final daquele dia em que a solidão a assolava. De tempos para cá, dera para sentir-se só, para precisar das pessoas. Ela, que mal gostava dos outros.
Poderia pensar em alguma coisa, possuía algum dinheiro, insuficiente para pagar as contas que se acumulavam na bagunça da mesa em meio a livros e anseios de projetos que até poderiam se realizar se fossem ao menos primeiro para o papel. Tinha já muitos papéis, muitas idéias. E só. Poderia fazer alguma coisa daquele resto de dia.
Devia era parar de se culpar por tudo. Levava uma vida dura e, ademais, andava deprimida.
Sentia falta dos seus.
Poderia sair, ligar para a amiga que andava cativando. Ver um filme, tomar um banho, talvez se entorpecer um pouco. Quem sabe se, em outro nível de consciência não pudesse ver as coisas de maneira diferente? Mas tinha medo de piorar tudo e não suportar. E se não suportasse, para onde iria?
Tinha medo de procurar pela amiga e saber que não a veria. Enquanto não soubesse se atormentaria com a dúvida mas se amortizaria com a esperança. Senão, o que faria com as horas restantes da noite, com as horas restantes da vida, até que pudesse ter com os seus?