Dêem uma olhada aqui Cinco Contra Um.
Blog novo, coletivo (adoro blogs coletivos), muito bom.
Tem texto meu também como convidada da semana.
quinta-feira, março 31, 2005
quarta-feira, março 16, 2005
Acordou tarde.
Fora, uma chuva fina deixava o mundo nublado e preguiçoso.
Se ficasse naquele quarto, a melancolia seria capaz de o enlouquecer.
Levantou-se, lavou o rosto e viu-se de soslaio no espelho manchado; tinha olheiras profundas, embora tivesse acabado de acordar, a barba clara, rala e macia se deixava por fazer há dias. Parecia extremamente cansado.
Pedro era um homem bonito. Rosto branco, cabelos finos, feições de menino. Menino perdido. Seus olhos eram doces mas exibiam uma certa inquietude desconcertante. Mesmo com os cabelos desgrenhados e os poucos pêlos que lhe faziam as vezes de barba, era um homem bonito.
Vestiu-se, pôs um velho casado marrom, ergueu a gola e saiu pela chuva fria, direto ao “rendez-vouz” de madame Margot.
Carlos não se continha ao ouví-lo chamar assim a aquele puteiro escuro onde se encontravam toda semana. “Esses poetas” dizia, entre risos, seios e doses de whiski barato.
Para Pedro, aquele era o último laço de requinte a que se podia prender. Adentrava o ambiente e, incontinente, após algumas doses de conhaque, se punha a recitar Baudelaire para suas “cortesãs”: “Tu mettrais l’univers entier dans ta ruelle / Femme impure! Le’ennui rend ton ame cruelle”
Pensava ter nascido no século errado; via-se nos cabarés de Paris, tomando absinto e fumando ópio entre atrizes cabelos cílios de azeviche haxixe pernas e poemas.
quinta-feira, março 10, 2005
Aos poucos foram se tornando íntimos. Na verdade, muito lentamente.
Tempos depois de serem apresentados, começaram a passar as tardes juntos em sua casinha de bonecas; depois cafés, visitas ao trabalho, enfim. Ao final de um ou dois anos se falavam diariamente e se viam quase que com a mesma freqüência. Mesmo que não pudessem conversar, estavam sempre perto um do outro, só pela presença. Horas e horas gastas entre músicas e leituras...
Durante todo esse tempo ouvira comentários dos amigos dizendo que ele a amava, porém sem saber. Nunca os levou em consideração. Aquilo não era, absolutamente plausível, conhecendo-o como imaginava que o conhecesse.
Nunca havia olhado para ele como um homem, propriamente dito.
Até que um dia, após um desses encontros vespertinos, uma amiga disse achá-lo bonito.
Olhou-o, então. E após olhá-lo, o viu pela primeira vez.
Neste único olhar, como se sempre se houvera sabido, ele deixou de ser o escritor para se tornar O DESEJO.
Como se o desejo sempre se soubera desejo. Como se sempre estivera.
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