domingo, fevereiro 20, 2005

Ouviu Bach muitas vezes. Todas as vezes. A mesma música. Nada neste mundo o tocava mais que a beleza.
Talvez por isso tivesse aquela queda pelo patético. A beleza, ainda que piegas, era ainda beleza, e isso o sensibilizava.

Precisava de amigos, se socializar mais... era isso. Livrar-se do ar viciado daquela clarabóia. Andava até pensando em convidar um conhecido seu para ser seu amigo mas, ao pensar em agir, desanimava. Não era mesmo um bom companheiro. Não ligava para as pessoas, não procurava por elas. Seria capaz de caminhar sobre brasa por alguém que lhe fosse querido mas só se fosse procurado para isso. Tinha muito respeito pela individualidade, prezava demais sua solidão para se intrometer na do alheio.

Na verdade, se achava sempre tão atormentado que achava injusto com o mundo circular suas asas caídas por aí.

Mas Pedro tentava sorrir com apreço para as pessoas.

Por precisar delas, embora não admitisse.

Por auto-comiseração.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Estou de luto dos meus sonhos.
Peço licença aos amigos: preciso morrer um pouco pra depois poder nascer de novo.

And

domingo, fevereiro 06, 2005

Estava incomodada. E não de hoje.

Havia dias que as coisas não andavam direito. Na verdade, o problema era que havia chego naquela parte do ciclo em que o rompimento se pronuncia. Dali para frente tudo poderia mudar mas o pior da ruína era esperar por ela.

De repente tudo poderia se tranformar, talvez para melhor, quem sabe, mas não saber era o que mais a atormentava. O cerne da questão era que sua vida se encontrava em suspenso. E isso se alastrava pelos seus dias, pelas suas horas. Um tormento indizível.

Em suspenso.

Tentava, em vão, se amparar da queda que parecia certa, mas como, se não...

Caminhava pela casa vazia. O velho robe de chambre florido, meias nos pés. "Figura patética", pensava. Deveria se decidir a dar um rumo ao menos para o final daquele dia em que a solidão a assolava. De tempos para cá, dera para sentir-se só, para precisar das pessoas. Ela, que mal gostava dos outros.

Poderia pensar em alguma coisa, possuía algum dinheiro, insuficiente para pagar as contas que se acumulavam na bagunça da mesa em meio a livros e anseios de projetos que até poderiam se realizar se fossem ao menos primeiro para o papel. Tinha já muitos papéis, muitas idéias. E só. Poderia fazer alguma coisa daquele resto de dia.

Devia era parar de se culpar por tudo. Levava uma vida dura e, ademais, andava deprimida.

Sentia falta dos seus.

Poderia sair, ligar para a amiga que andava cativando. Ver um filme, tomar um banho, talvez se entorpecer um pouco. Quem sabe se, em outro nível de consciência não pudesse ver as coisas de maneira diferente? Mas tinha medo de piorar tudo e não suportar. E se não suportasse, para onde iria?

Tinha medo de procurar pela amiga e saber que não a veria. Enquanto não soubesse se atormentaria com a dúvida mas se amortizaria com a esperança. Senão, o que faria com as horas restantes da noite, com as horas restantes da vida, até que pudesse ter com os seus?